O livro “Psiquiatria e Tipos Naturais” teve a sua 1ª edição lançada pela editora Appris (2023). A obra é resultado da pesquisa de doutorado que realizei no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFMG entre os anos de 2015 e 2018.

Este livro desenvolve uma tese básica: estudar tipos de pessoas não é descrever realidades estáticas ou imóveis, mas modificar pessoas enquanto são estudadas. Isso quer dizer que não conhecemos mais sobre o tipo de pessoa X, mas conhecemos mais sobre a mudança das pessoas após serem descritas e classificadas como um caso de X. Ciências humanas é o lugar privilegiado para observar essa dinâmica pública de interação e transformação entre classificações e indivíduos. Quando especialistas caracterizam e pesquisam tipos de pessoas, essas descrições ganham circulação pública, indivíduos interagem com essas descrições, mudam suas crenças sobre si mesmos, elegem novas pautas de comportamento e evoluem dentro da classificação, o que obriga especialistas a estudarem novamente esse público modificado à luz das suas pesquisas anteriores. O filósofo Ian Hacking chama esse fenômeno de efeito looping dos tipos interativos. Se estudar tipos de pessoas é interferir e mudar crenças e comportamentos dos indivíduos que caem sob essas classificações, o que ocorre na psiquiatria? Tradicionalmente classificações psiquiátricas foram assumidas como tipos naturais. Quando classificações são candidatas a tipos naturais, sua unidade descritiva apoia-se numa base causal, por exemplo, numa patologia degenerativa ou no uso de certas substâncias. Este é o caso dos transtornos neurocognitivos e dos transtornos induzidos por uso de substâncias. Se podemos listar duas categorias de bons candidatos a tipos naturais no DSM-5, abre-se um problema para as demais classificações. Autismo, TDA/H, depressões, transtornos de ansiedade, etc. possuem uma estrutura descritiva cuja unidade não indica bases causais, apenas características gerais com contornos vagos e difusos. Nesse cenário, temos no DSM-5 bons candidatos a tipos interativos. O caminho deste livro é pensar o estatuto ontológico das classificações psiquiátricas a partir dos tipos interativos e dos tipos naturais. Nas páginas que seguem, o leitor encontra uma investigação filosófica que começa pela teoria dos tipos naturais, avança pelas bases filosóficas dos tipos interativos em Foucault e Sartre, problematiza a ontologia dos tipos de Hacking, até chegar na psiquiatria como lugar para uma articulação entre nominalismo e realismo. Além fornecer uma contribuição para o campo da filosofia da psiquiatria, e beneficiar profissionais da saúde com uma perspectiva esclarecedora sobre o DSM-5, este livro promove a necessidade de uma visão crítica sobre os tipos estudados pelas ciências humanas em geral, e a psiquiatria em particular, indicando que a dinâmica de interação não pode nem deve ser ignorada por especialistas e pesquisadores.

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Livro, Psiquiatria e Tipos Naturais